Escondida entre as inúmeras ruas estreitas do Barri Gotic em Barcelona, fica esta pequena e notável rua, a Carrer de Petritxol. Paralela às famosas Ramblas, ela liga a movimentada Carrer de la Portaferrissa com a Plaça del Pí onde fica a igreja de Santa Maria del Pí e aos domingos, o mercado de gastronomia artesanal, com chocolates, queijos, embutidos, mel e outras delícias.
Esta rua de pedestres, conhecida por suas galerias de arte, livrarias e “granjas”, como são chamadas por lá as leiterias, sempre foi um “point”.
Com tantos acontecimentos, suas paredes são decoradas com diversos quadros em ladrilhos ilustrando de forma bem humorada a história e costumes da rua, além de homenagear antigos e célebres moradores.
Dentre os painéis de ladrilhos da Carrer de Petritxol, um merece destaque. É o está no início da rua, perto da Plaça del Pí, e parece uma história de revista em quadrinhos. Cada um dos 27 quadros retrata uma cena do livro “L’Auca del Senyor Esteve” escrito por Santiago Rusiñol, criticando a sociedade burguesa de sua época.
A Carrer de Petritxol existe desde o século 14. No numero 5 funciona até hoje a Sala Parés, uma das primeiras galerias a comercializar obras de arte na Europa. Foi nela em que Picasso teve pela primeira vez uma exposição exclusiva.
Esta é uma rua muito querida pelos moradores de Barcelona e sempre teve borogodó. Muita gente importante por lá morou e na fachada dos prédios, as placas citam seus nomes. Por um bom tempo a grande cantora barcelonesa Montserrat Caballé manteve nesta rua um estúdio para ensaios.
A Petritxol foi a primeira rua transformada em área exclusiva para pedestres na cidade, lá pelos anos 1950. Até hoje é um dos pontos de encontro favoritos da boemia e dos artistas locais. Na alta temporada, fica pejada de visitantes ávidos em busca de chocolate.
É na Carrer de Petritxol que fica a mais popular das “granjas” de Barcelona: “La Pallaresa”. As granjas, ou leiterias, são verdadeiras instituições na cidade. Um hábito bastante comum no inverno, é tomar uma enorme xícara de chocolate quente acompanhada de churros – “Xurros amb xocolat”. A tradição manda mergulhá-los no chocolate antes de comer.
Saindo um pouco do assunto, mesmo que sua visita a Barcelona não seja em época de frio, não deixe de experimentar essa típica iguaria. Meu “batismo” foi em uma granja no bairro de Eixample. Era uma tarde de um dia de semana e a loja estava completamente vazia. Habituada a beber chocolate com leite, estranhei a mistura com água e sabor muito forte.
A senhora que nos serviu, preparou a bebida com visível orgulho, nos observava quase que ansiosa, esperando a reação. Tivemos vergonha de abandonar os chocolates no balcão. Elogiamos, agradecemos e saímos com os copos (por sorte descartáveis), para jogá-los na lixeira da outra esquina. Hoje, apesar de um pouco mais acostumada, prefiro pedir um “suizo”, que vem com creme chantilly no topo e alterno “xurros” com “melindros”, parecidos com nosso biscoito “champagne”.
Esta pequena rua parece sintetizar as múltiplas faces de Barcelona. Sua aparência gótica nos remete aos tempos de poderosos reis em que a cidade se destacava como potência naval. Ao mesmo tempo seus ladrilhos contam sobre um passado não tão distante, bem ao lado das tradicionais granjas e galerias de arte e modernas lojas de chocolates finos. Não é a toa que vive cheia de gente.