Mesmo sendo bastante comuns e em diversos lugares do mundo, minha atenção para as capelinhas nos muros das casas foi despertada por acaso caminhando pelas ruas de Veneza. A tarefa de descobrir e fotografá-las acrescentou um prazer extra à visita e, tempos depois, percorrendo o Centro Histórico de outra cidade italiana, Gênova, voltei a encontrá-las. Surpreendida pela quantidade, variedade e a possibilidade de retomar a diversão, saí registrando as imagens com tanta animação que, acabei perdendo um cartão de memória.
Conhecer as capelinhas votivas, também chamadas na Itália de Edicole Votive ou Madonnette das ruas do Centro Histórico de Gênova é mais que perceber a devoção religiosa de seus habitantes. Algumas singelas, outras luxuosas, antiquíssimas ou nem tanto, elas revelam uma arte popular de enorme tradição e como a forma de edificar estas manifestações foram mudando nas diferentes épocas desta poderosa cidade.
Os pequenos santuários eram construídos não apenas para a proteção religiosa de moradias familiares. Cada loja, cada oficina, cada junta de comerciantes, guilda ou categoria de trabalhadores tinha a sua “madonna” própria guardando a esquina. No passado, as velas que ficavam acesas nesses pequenos santuários guiavam os caminhos dos marinheiros que voltavam para casa pelos becos na escuridão da noite.
Passear pelo Centro Histórico de Gênova, é ter a oportunidade de encontrar capelinhas góticas, barrocas, vazias, depredadas, em excelente estado, de mau gosto ou verdadeiras preciosidades. Algumas pelo seu valor, passaram a fazer parte do acervo de museus, destacadamente o “di Sant’Agostino”, em uma das partes mais antigas da cidade.
Entre os anos de 1990, no quinto centenário do Monte della Madonna della Guardia, e 2000, um ano de Jubileu, as edícolas votivas foram catalogadas e muitas restauradas. Foram também feitas cópias de diversas peças que se encontravam em museus para serem colocadas nos nichos originais nas esquinas, devolvendo ao bairro suas características culturais e religiosas.
A quantidade de capelinhas em Gênova, principalmente concentradas nas vielas, ou “caruggi”, como se diz por lá, é enorme. Consta que, apesar de muitas já terem desaparecido, eram mais de 850 em uma contagem feita em 1863.
Ao tomar conhecimento de que ainda hoje existem cerca de quinhentas “Madonnetti”, percebi que a perda do cartão de memória não foi um lá um grande prejuízo. O que vi foi uma amostra da ponta do “iceberg”, e o tempo na cidade não teria sido suficiente para apreciar nem fazer justiça a um patrimônio tão extenso.
Quando eu tiver a oportunidade de voltar a Gênova, “La Superba”, vou, além de reservar mais tempo para explorar os arredores, destinar pelo menos um dia inteiro e um roteiro para caçar o maior número possível de capelinhas nas esquina no Centro Histórico.
Apesar de espalhadas por toda a cidade, as madonas se concentram na parte mais antiga da cidade, o labirinto de becos e vielas que constituem um Centro Histórico tão grande que o acesso pode ser feito por nada menos que três estações do metrô: S. Agostino, S. Giorgio e Darsena. Independente do interesse pelas capelinhas, este é um passeio gratuito, sem restrições de horário e que por mostrar as raízes de Gênova, é obrigatório.