Quem passa por perto da enorme estação de trens de Atocha na movimentada área central de Madri, fica curioso ao ver um estranho cilindro de vidro emergindo no meio do trânsito engarrafado.

Para saber do que realmente se trata, é preciso descer até a área “intercambiadora” da estação, para descobrir que é um monumento em homenagem as vítimas do triste atentado que aconteceu em 11 de março de 2004, que vitimou 191 pessoas e feriu cerca de 1700. Inaugurado em 2007, é um desconhecido quase que absoluto, apesar de ficar no centro da capital espanhola.

O monumento é de uma sobriedade impressionante, tratando com respeito o terrível episódio. Uma entrada bastante escura conduz a uma espécie de parede azul quase que transparente. À medida que vai entrando se chega a uma enorme sala em um tom profundo de azul e completamente vazia.

No centro, fica um buraco que é a única fonte de luz do silencioso ambiente. Ao se aproximar, descobre-se uma abóbada, que é a parte de dentro daquele esquisito cilindro que fica lá em cima na rua. Ela é totalmente feita em blocos de vidro.

Olhando por baixo do “túnel de luz” daquela sala de um azul profundo, percebe-se que a abóbada é inteiramente ocupada por frases escritas em dezenas de línguas. Ali estão reproduzidas as mensagens de condolência que os habitantes de Madri deixaram espontaneamente na estação logo após o atentado.

É um local que transmite uma enorme sensação de paz e que nos conduz a reflexões. O tocante projeto dos arquitetos do FAM (Formidable Aroma de Manzana) elimina estímulos como vibrações, sons ou imagens. A sensação é parecida com estar em uma capela. A singeleza do ambiente abre espaço para que fiquemos em paz e nos entreguemos às recordações. O lugar reverencia de forma serena vítimas de uma tragédia – Não há espaço para exibicionismo nem sentimentalismo barato.

Esse é um lugar que nos traz lembranças tristes, mas é importante a sua existência: Não só para homenagear as vítimas, mas para que o episódio não seja esquecido e sirva como um alerta para que as atuais e futuras gerações reflitam e se convençam a praticar a paz em lugar da intolerância, o que só faz perpetuar os inaceitáveis atos de terror.