À margem da fama

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Buquinistas

Buquinista é o nome que se dá ao vendedor de livros usados. E os mais famosos do mundo são os buquinistas de Paris. Essa tradição viva faz parte da paisagem sendo um dos mais conhecidos cartões postais da cidade. As bancas ficam sobre a amurada ao longo da margem do Rio Sena. Sempre em verde garrafa, ocupam os dois lados do rio num total de mais de três quilômetros.

Área dos buquinistas

Os buquinistas de Paris são patrimônio da humanidade declarado pela UNESCO. Já testemunharam diversas guerras, passaram por altos e baixos e continuam com o mesmo tipo de comércio desde o século dezesseis. Não faltam histórias interessantes ou românticas. (Veja aqui e aqui também ).

Buquinistas

A simples presença ali na calçada, com livros tão ao alcance das mãos, faz um enorme trabalho em prol da cultura, incentivando o hábito e mantendo acesa a chama do prazer da leitura. É muito difícil resistir. Os livros têm essa estranha magia: A gente pensa que os está comprando, mas na verdade são eles é que estão se oferecendo para serem levados. O buquinista é apenas um instrumento.

Buquinistas

Uma das coisas mais divertidas para se fazer em Paris é andar a pé ao longo do Rio Sena. E isso fica melhor ainda com uma paradinha em um buquinista para garimpar ou folhear um livro raro, olhar os jornais antigos, revistas em quadrinhos, cartões postais, selos e gravuras de propagandas antigas. Infelizmente essa tradição tão enraizada na cultura parisiense tem enfrentado problemas para sobreviver.

Buquinistas

Os tempos mudam e os hábitos se adaptam às novas exigências. Hoje em dia as pessoas têm muito pouco tempo livre para se dar o luxo de procurar um exemplar esgotado de determinado livro. Não são poucos os sebos que disponibilizam seus acervos online a um clique do nosso dedos, e com entrega domiciliar. Para os que não fazem questão de livros físicos a oferta é ainda maior: Qualquer um pode baixar no computador arquivos de uma imensa variedade de livros, sem falar nos e-readers como o iPad, o Kindle, o Kobo, com preços cada vez mais convidativos.

Buquinistas

Por conta disso, os buquinistas viram sua clientela ir embora e começaram a entrar em decadência. Para continuar mantendo seu sustento, muitos deles passaram a vender bugigangas cafonas, de fabricação chinesa e souvenires baratos. Outros foram buscar outra fonte de renda e passaram a raramente abrir suas bancas.

Buquinistas

O gato da prefeitura subiu no telhado. Alguma coisa precisava ser feita: Uma lendária instituição que disseminou por séculos literatura, arte, filosofia, poesia e cultura estava em cheque. Esse imenso patrimônio estava sendo desvirtuado. Há uma regra que permite que o buquinista venda outros artigos além de livros, desde que não ultrapasse 25%do seu estoque. Para não perder sua licença muitos passaram a comprar a granel e vender livros de bolso de segunda mão como fachada para o comércio de artigos turísticos de má qualidade, atividade bem mais lucrativa.

Buquinistas

Num trabalho inteligente a prefeitura não se limitou a coibir esses abusos. Ainda que restringindo severamente a venda de torres Eiffel de plástico, criou uma comissão específica para encontrar soluções. Adotou uma postura de apoio, num trabalho em conjunto com os buquinistas, passando a utilizar meios mais modernos de divulgação como a Internet, a criação de um guia de livreiros, prêmios, organização de leituras públicas e tours literários. Por enquanto essa história está tendo um final feliz. Pelo sim, pelo não, acelere os seus planos de visitar Paris

4 thoughts on “À margem da fama”

  1. Uma surpresa muito agradável a descoberta desta publicação.
    Gratissimo pelo passeio às margens do Sena, entre os buquinistas.

  2. Muito obrigada.
    Este é um passeio realmente encantador: O barulho e a agitação do tráfego ao redor desaparecem como mágica quando estamos distraídos com os livros. Valeu a companhia.

  3. Um horror estes camelôs. Atrapalham a vista do rio. Não gosto de camelôs nem que sejam paririenses.

  4. Claudio,
    Pelo menos eles não ocupam toda a margem. E se der preguiça de andar até sair da área designada para os buquinistas, sempre resta uma das pontes para espiar o rio (torcendo para que as grades não estejam completamente entupidas de cadeados, bilhetes e mensagens em sacos plásticos amarrados nos gradis com juras de amor deixados pelos casais de namorados).

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