Uma das cidades que não se pode deixar de visitar quando se está na Toscana, uma das mais bonitas regiões da Itália, é Siena. Lá se tem a nítida impressão de ter entrado em uma máquina do tempo. Ao contrário de muitas cidades que sucumbiram ao progresso para depois restaurar as construções antigas criando clones, Siena conseguiu preservar intacta a beleza original de seu patrimônio arquitetônico.

Percorrer suas ruas sinuosas mexe com a sensibilidade de um turista, que bobo, acaba abrindo o coração e às vezes o baú de recordações do passado. Foi o que aconteceu comigo ao visitar o interior da majestosa e imperdível Catedral de Siena, o Duomo di Santa Maria Assunta.

O Duomo de Siena é uma das principais catedrais italianas e seria a maior da região, não fosse a praga que dizimou quase toda a população da cidade e deixou a construção inconcluída.Seu interior bonito e especialmente original, abriga um tesouro: A Biblioteca Piccolomini.

A Libreria foi encomendada pelo Cardeal Piccolomini, futuro Papa Pio III para homenagear e abrigar os livros e manuscritos de seu tio Enea Piccolomini, o também Papa Pio II. Pinturicchio, na época o artista mais famoso da Itália, foi incumbido da tarefa de pintar os afrescos da Biblioteca.

O acesso é pelo lado esquerdo da nave. Os portais em arco são ricamente entalhados em mármore e incrustações em tons variados. A impressão é de estar entrando em uma caixa de jóias. As paredes são decoradas com afrescos retratando episódios da vida do Arcebispo Enea Piccolomino. No magnífico teto, também de autoria de Pinturicchio, cenas da mitologia clássica.

No meio de toda essa suntuosidade, quase que deixa de notar a exposição: Na Biblioteca são preservados inestimáveis manuscritos, iluminuras e partituras originais de músicas usadas pelos corais da época renascentista.O centro da sala é ocupado por uma escultura das Tres Graças.

Ao sair de lá lembrei da história que minha avó Silvana contava sobre o “Bicho Manjaléu” :Sua vida era mantida por uma vela, que ficava dentro de um ovo, que ficava dentro de uma pomba, que ficava dentro de uma pedra, que ficava dentro de um caixão, que por sua vez ficava dentro do mar.

Assim é a Libreria Piccolomina. Um bem precioso guardado dentro da Catedral, dentro de Siena, dentro da Toscana, dentro da Itália. Para chegar a ela não precisa ser nenhum príncipe encantado, nem enfrentar perigos. O maior desafio para o simples mortal será encarar a eventual fila da bilheteria da Catedral, que compreende a visita à biblioteca.