Arrumar as malas, conferir reservas de hotéis, passagens, agendar o pagamento das contas, designar um molhador oficial para as plantas são tarefas leves quando se tem o pensamento voltado para o tempo que se terá para desfrutar uma viagem de passeio na Europa. Mesmo indo no inverno, e tendo colocando um monte de casacos na mala, a imaginação insiste em projetar situações cinematográficas sob um fantástico céu azul e, eventualmente, um tapete branquinho de neve sob os pés.
Ao desembarcar, e constatar que está chovendo e que a situação deve perdurar durante todo o período da visita pode literalmente levar uma pessoa a “fechar o tempo”. Apesar de não ser a melhor das situações, o melhor a fazer é pensar que ainda assim será infinitamente melhor do que ficar em casa e, ao invés de se pagar um hotel para assistir televisão ou preparar o discurso de lamentações para a volta. Ponha o guarda-chuva na mala de mão e incorpore o espírito de Woody Allen, que considera a chuva seu tempo favorito. Até os que viajam em épocas tecnicamente ensolaradas não têm como evitar esta inevitabilidade.
Ao contrário de minha prima Aline, sou uma viajante que atrai nuvens – as cumulonimbus. É impressionante como, independente de estação ou destino escolhido, a chuva, com raríssimas exceções, sempre dá o ar da graça quando sabe que estou prestes a chegar. Por conta disso, tive que aprender a parar de reclamar e desenvolver mecanismos para tirar partido deste “inconveniente”.
Ter uma perspectiva positiva, obviamente não elimina sapatos molhados e outras chatices, porém, um planejamento flexível incluindo boas doses de atividades abrigadas, como visita a museus, galerias ou percursos em ônibus convencionais passando por atrações turísticas fazem com que uma visita em tempo de chuva seja até mais aconchegante.
A menos que se esteja planejando acampar, o que requer bom senso na escolha da estação apropriada, chuva não arruína férias e nem é motivo para cancelar todos os planos. O que pode estragar é a recusa em aceitá-la e deixar de fazer adaptações. Para quem visita um centro urbano, as alterações serão muito pequenas e, dependendo da época, encontrará uma cidade mais tranquila, atrações mais vazias e até hospedagem mais barata.
Reduzindo a tentação de correr para ver tudo, a chuva nos força a uma mudança no ritmo e nos torna mais perceptivos, observadores e reflexivos. Destinando mais tempo para ver menos coisas, acaba se tornando uma viagem muito menos cansativa e descompromissada. Com uma abordagem meio “o que vier é lucro” e desobrigados de ficar engomados, levantamos um pouquinho o guarda-chuvas para reparar que a arquitetura de Paris, por exemplo, fica mais até mais bonita quando molhada.
Para quem aprecia fotografar, as oportunidades são únicas. A pouca luminosidade da chuva torna as cenas mais suaves e até românticas e raios ou formações pesadas de nuvens conferem um fantástico ar de dramaticidade. Depois que a chuva passa – e isto inevitavelmente acontece, as gotas que ficaram sobre a vegetação, o reflexo do sol nas poças duplicando a paisagem ao redor ou até mesmo o arco-íris, serão os esplêndidos presentes da natureza para os que perseveraram. É para sair cantando na chuva…