Quem acompanha o blog, sabe do meu chamego por arquitetura, especialmente a contemporânea. Para mim, não existe roteiro completo sem ao menos um desses “sonhos de consumo”. Por questões de logística, a almejada Capela Notre-Dame du Haut, precisou esperar muitos anos para finalmente ser conhecida.
Encarapitada no alto de uma colina na pequena cidade de Ronchamp, no oeste da França, perto da fronteira com a Suíça, a capela é uma das obras mais emblemáticas do arquiteto Charles-Édouard Jeanneret, vulgo, Le Corbusier. Apesar de bastante conhecida, é pouco visitada por conta de sua localização, literalmente no meio do nada. É preciso ter vontade suficiente para justificar a viagem.
Conhecer a capela Nossa Senhora da cidade de Ronchamp é bem mais do que ir conferir uma bela estrutura de concreto projetada por um arquiteto estrelado. O processo de planejar uma coordenação azeitada das etapas da viagem, a necessidade de subir a colina por um bosque e apenas estabelecer contato visual depois de concluída a escalada, fortalece o impacto da visita.
Apesar de pequena e das linhas simples, a capela se destaca por sua posição isolada no alto da colina, tendo o céu como pano de fundo. Contrastando com sua cor branca, o famoso telhado cinza curvado parece levitar sobre a igreja. Nos dias de chuva, a água que cai escorre por sua inclinação formando uma pequena cascata natural que alimenta uma fonte de formas abstratas na fachada do lado oeste.
No mesmo local da capela, existiu uma anterior igualmente dedicada à Virgem Maria, destruída durante a Segunda Guerra Mundial. Na atual, sendo pequena e em um lugar de peregrinação, há um altar e um púlpito no lado externo para a realização de missas ao ar livre para grande quantidade de pessoas.
A entrada no interior dá o toque final de emoção que faz valer o sacrifício da viagem. A luminosidade que passa pelas janelas coloridas de formatos e tamanhos diferentes e pelas aberturas laterais parecem “acender” determinados pontos na parede. O foco de luz que passa por uma abertura entre a parede e o teto incidindo sobre a capela-mor transmite uma sensação quase que celestial.
A vontade é de permanecer neste lugar especial horas a fio para examinar cada pequeno detalhe, mas se mesmo para quem está motorizado é difícil sair, quem está a pé sabe que para pegar o trem com frequência minguada ainda terá que descer a colina e caminhar quase meia hora até a estação. Portanto, é preciso voltar à realidade e monitorar o tempo.
Discretamente construído na encosta da colina fica o mosteiro das Irmãs Clarissas. Inaugurado em 2011 com um projeto de muito bom gosto do arquiteto Renzo Piano, se integra ao ambiente de forma harmoniosa com suas formas simples, tendo o respeitoso cuidado de sequer ser visto da Capela de Notre-Dame du Haut. Embora não esteja aberto para visitação, a parte externa pode ser observada.
O Centro de visitantes da Capela Notre-Dame du Haut funciona todos os dias da semana. Nas instalações, além da bilheteria, há uma loja com vários livros de arte e arquitetura e lembranças exclusivas. Junto aos banheiros, o espaço de alimentação, que no dia de minha ida, no inverno, oferecia apenas uma máquina automática de café. Informações detalhadas podem ser obtidas em http://www.collinenotredameduhaut.com/
Fiz este sonhado passeio como um bate e volta partindo da Basiléia, na Suíça. Mesmo estando relativamente perto, as diversas baldeações e horários desencontrados dos trens tomaram praticamente o dia inteiro. Uma visita saindo de Paris é plenamente possível, embora bastante cansativa. Para uma noção dos horários do transporte local: http://www.ronchamp.fr/index.php?IdPage=1404809220