Desde os tempos em que se chamava Constantinopla, Istambul mantém a tradição do comércio como uma das mais importantes atividades econômicas. Em muitos lugares da cidade, especialmente na parte mais antiga a venda continua sendo um verdadeiro ritual onde a barganha é uma instituição.

Existem variações em torno do mesmo tema, mas em geral a brincadeira funciona assim: O comerciante percebe o interesse de seu eventual cliente e oferece a ele um chá. Aí começa a negociação. O preço é discutido quase como uma encenação teatral. Para começar o vendedor não revela o valor. Ele vai enumerar todas as qualidades de seu produto. E isso demora…

Depois de um bom tempo e muita saliva gasta, finalmente ele revela o segredo. E é um valor sempre absurdamente alto. Aí é a vez de o freguês se fazer de desinteressado ou mostrar seu estado de choque com uma cara apavorada. A guerra então começa. O vendedor enumera outros efeitos especiais da maravilha que está oferecendo. O cliente então contra ataca dizendo que já encontrou a mesma coisa por um quarto daquele valor.

O vendedor reduz o preço pela metade. É a vez de quem compra começar a se retirar da loja. É seguido e ouve a pergunta: Quanto quer pagar? A discussão continua até uma das partes cansar ou se dar por vencida e aí a mercadoria é vendida. É muito trabalhoso, mas tem quem curta o jogo.

Não é regra, mas é isso o que normalmente acontece nos bazares de Istambul, principalmente quando a mercadoria é de artigos não perecíveis. Mas a fórmula também é utilizada no Misir Çarsisi, ou Bazar Egípcio, também conhecido como Mercado de Especiarias.

Bem menor que o Grand Bazaar (veja aqui), e menos procurado por turistas, O Misir Çarsisi ou Bazar Egípcio é tão ou mais interessante. Focado na venda de especiarias e artigos alimentícios, também tem lojas com roupas, luminárias, e souvenires com preços menores que o famoso colega.

A palavra “misir” em turco pode significar cereal ou Egito, daí o nome do mercado. O Misir Çarsisi foi erguido em torno de 1660 para arrecadar fundos para a construção da Mesquita Nova, a Yeni Camii logo em frente,que merece também uma visita.

Era nesse bazar que antigamente os cozinheiros dos palácios compravam os preciosos ingredientes para preparar os suntuosos banquetes dos sultões.

Antes de chegar à entrada, já se fica inebriado com os aromas de café, ervas e especiarias que o mercado e as lojas no entorno exalam. Istambul definitivamente não é um bom destino para quem está de dieta.

E nesse mercado as melhores intenções são sepultadas com requintes de crueldade. Muitas lojas oferecem provas dos seus produtos. Fica difícil resistir.

Aí começa o espetáculo: Especiarias, cada uma mais colorida que a outra, perfumes com aromas originais de sândalo, âmbar e gardênia, temperos, ervas medicinais, mel, doces típicos turcos, barras de mel com frutos secos, chás de flores ou frutas, pistaches frescos e enormes, amêndoas, frutas secas ou cristalizadas, azeites e azeitonas de todas as qualidades, cafés das mais variadas espécies, grãos e sementes, carnes curtidas, embutidos, queijos, o procuradíssimo caviar e mais e mais.

Há muita gente que considera esse mercado mais interessante que o Grand Bazzar. Na dúvida visite os dois. Ou deixe um de fora de propósito, para ter uma boa desculpa para voltar a Istambul.

O Bazar Egípcio ou de Especiarias fica no bairro de Eminonu, na Cami Meydadi Sokak. Funciona de segunda a sábado das 8 até as 19 horas. Para chegar lá, pegue o tram linha 1, Kabatas-Zeytinburnu, e desça na parada Eminonu.