Tenho por hábito planejar minuciosamente minhas férias para que durante a viagem a única obrigação seja aproveitar o passeio. Apesar dos cuidados, nem sempre as coisas funcionam como se idealiza. Por estar sobrecarregada de trabalho, passei para o agente de viagens a tarefa de reservar as passagens Rio-Barcelona e Paris-Rio. Paguei sem notar que a passagem da volta saía de Barcelona ao invés de Paris.

Inconformada por ter que pagar a multa pela alteração na passagem, resolvi dar um destino melhor aos meus 100 dólares e comecei a pesquisar se havia algum vôo Paris-Barcelona por um valor menor. Encontrei, mas havia uma tarifa muito mais interessante para Bilbao. Seria uma ótima oportunidade para conhecer o maravilhoso Museu Guggenheim. Comprei a passagem a preço de banana e mais um trem noturno de Bilbao para Barcelona, que com antecedência tinha um belo desconto. Gastei o equivalente a 110 dólares nos dois deslocamentos e ainda economizei no hotel, dormindo no trem-leito.

A chegada ao país Basco não poderia ter sido melhor. O belíssimo aeroporto de Sondika, projeto do grande arquiteto Santiago Calatrava, aliado a uma bonita manhã de domingo e a uma eficiente ligação por ônibus ao centro de Bilbao, já mostravam que a alteração no roteiro foi um acerto.

Deixamos as malas no guarda volumes da estação de trens de Abando e partimos para conhecer a cidade e sua famosa celebridade, o Museu Guggenheim. Bilbao é uma cidade bastante interessante, com um bonito centro histórico, “o Casco Viejo” onde se pode experimentar os legítimos e deliciosos “pintxos”, a versão basca dos “tapas” espanhóis.

Não foi difícil chegar ao museu, apesar de as placas indicativas serem em Euskara, o idioma falado na região, eram também legendadas em espanhol. A aproximação do museu é emocionante. Antes da visita demos uma volta completa no prédio para não perder nenhum ângulo da surpreendente estrutura . A fachada é revestida em placas de titânio e cada uma dessas peças tem um formato único. É de cair o queixo.

O edifício do museu Guggenheim é a estrela numero um da cidade. A fantástica criação do arquiteto Frank Gehry vale definitivamente uma visita. O interior é igualmente estonteante. A impressão que se tem é que se está em um palácio de cristal, tamanha é a leveza das estruturas em vidro. O acervo acaba prejudicado pela beleza do prédio, pois facilmente nos distraímos tentando descobrir uma lógica ou uma parede que seja reta (acho que não existe), e acabamos nos esquecendo de apreciar as peças.

Apesar da poderosa concorrência com o prédio, as esculturas de Richard Serra, que fazem parte da coleção permanente, conseguem roubar a atenção do visitante. Elas são enormes e percorrê-las é uma sensação especial. A programação do museu é variada e sempre acontece ali uma ou mais exposições temporárias. O museu conta com uma boa loja, um restaurante e um bistrô.

Na pequena praça junto à entrada do museu, existe uma chamativa escultura toda feita em folhas e flores vivas. “Puppy”, um enorme cachorro criado pelo americano Jeff Koons, que foi instalado temporariamente no local, caiu no gosto dos habitantes da cidade. Foi ficando, ficando e acabou virando residente.

Do lado oposto à entrada do museu, há uma passarela entre o Rio Nervión e o espelho d’água com a enorme escultura de uma aranha, criada por Louise Bourgeois. Desse lugar se “assiste” a instalação “Fog Sculpture#08025” da artista Fujiko Nakaya. A cada hora cheia o espelho d’água do museu é coberto por uma camada de névoa, que se dispersa de acordo com os caprichos do vento. Quando começa a escurecer, outra instalação pode ser apreciada: É a “Fire Fountain” idealizada por Yves Klein. Do espelho d’água emergem labaredas de fogo aproximadamente a cada cinco minutos por uma hora. Conjugado com a névoa é um espetáculo maravilhoso.

Bilbao mudou bastante nos últimos anos. A capital da província de Vizcaya não passava de um grande centro industrial no País Basco com o maior porto comercial da Espanha. O museu colocou a cidade na rota do turismo. Milhares de pessoas a visitam apenas para conhecer o Guggenheim. É pena, pois há mais para ser visto.

Sítio do museu:

http://www.guggenheim-bilbao.es