É curioso acompanhar a mudança de conceitos e hábitos. O fumo, que já foi considerado um tônico, hoje vem sendo mundialmente combatido. Com campanhas públicas e leis restringindo os locais de consumo, é notável a velocidade com que um país com uma cultura tabagista tão arraigada como a França mudou. Há muito pouco tempo, era comum uma plataforma de metrô em Paris ser enfumaçada.
As lembranças desses tempos não se restringem a fotografias e filmes antigos focando existencialistas com cigarros no canto da boca. Um tipo de comércio ainda comum na Europa, é a tabacaria. Conhecidos na França como “Tabacs”, são verdadeiras lojas de conveniência oferecendo jornais, revistas, bilhetes de loteria, selos, tíquetes de transporte, cartões telefônicos, recarga para celulares, pilhas, canetas, isqueiros, chaveiros, bala, lembrancinhas e… até cigarros.
Para um turista que chega num domingo, dia com várias lojas estão fechadas, um “Tabac” pode ser bem útil. Encontrar um deles na França é muito fácil. Da mesma forma que as farmácias, exibem uma sinalização bastante chamativa pendurada na fachada, acima da entrada. Mesmo que seja noite, dá para ver de longe o tradicional losango vermelho iluminado. É impossível não reparar em um “Carrot de Tabac”.
A origem deste símbolo é pitoresca. Alguns dizem que para conservar o frescor, os rolos de tabaco eram guardados com pedaços de cenouras. Outra explicação mais aceita, é que antigamente os rolos de fumo chegavam às tabacarias amarrados em lotes que pareciam ramos. Para ser vendido no varejo, era preciso desfiar e cortar as pontas. O que restava do amarrado na loja, era muito parecido com um ramo de cenoura – o apelido pegou.
Por força de lei do início do século vinte, os pontos de venda autorizados a comercializar tabaco, deveriam necessariamente exibir a especifica sinalização com o clássico losango vermelho. Com o desgaste, precisavam ser substituídos por novos e, para se destacar do vizinho, surgiram variações estilizadas do letreiro “Carrot de Tabac”.
É difícil imaginar uma cidade francesa sem os tradicionais losangos vermelhos na fachada. A paisagem não seria a mesma sem os também lendários “Bar Tabac” eternizados em músicas.
O problema é que quando começamos a prestar atenção nessas “cenouras”, vira quase uma obsessão. É como reparar uma verruga em uma pessoa. A gente quer fingir que não vê, mas não para de olhar.
Uma forma de transformar a recém adquirida paranóia em brincadeira é durante o caminho, descobrir os diferentes modelos e versões do “carrot”. O passatempo da sua viagem se transforma em uma lembrança que só é possível quando se visita a França.