Visitar Roma é perigoso. Mais difícil do que atravessar suas ruas é conseguir dar conta do que se planeja fazer, independente da duração da estada. Me antecipando ao perfil envolvente desta cidade, criei um roteiro extremamente folgado para comportar toda a sorte de imprevistos… e mesmo assim não foi suficiente.
Para esticar as pernas de tantas horas no avião, o planejado para o dia da chegada era muito simples: Um passeio a pé de menos de dois quilômetros, entre a Piazza della Repubblica e a Fontana di Trevi, tendo como única visita a Igreja de San Carlo alle Quatro Fontane. Passada uma hora sem ainda tê-la visto, percebi que o roteiro não iria funcionar.
Ao atingir a esquina das vias 20 Settembre e delle Quattro Fontane, mesmo sabendo da existência, fiquei impressionada com a riqueza dos detalhes das fontes, em cada um dos quatro ângulos do cruzamento, sendo duas com estátuas masculinas e duas com femininas.
As duas fontes com figuras masculinas representam as cidades de Roma e Florença com seus respectivos símbolos, a loba capitolina e a flor de lis, e seus respectivos rios, Tibre e Arno.
As fontes com deusas meninas são a de Juno, acompanhada de um pavão e um leão, simbolizando a coragem e a de Diana, com um pequeno cão, representando a lealdade.
Mas a visita à igreja ainda precisa esperar. Além das fontes ao lado, sua localização é em um cruzamento no alto de uma ladeira. Olhando para cada um dos quatro lados dá para ver belezas de Roma como as torres das igrejas de Trinità dei Monti e de Santa Maria Maggiore, a Porta Pia e o obelisco da Piazza del Quirinale.
Finalmente a igreja: Olhando de fora, o desafio é tentar entender como esta formosura barroca, um dos grandes projetos de Borromini, consegue se encaixar em um terreno tão pequeno. Apesar das proporções corretas, o mestre precisou usar um truque de 3D, criando uma ilusão de ótica, para “espremer” sem nenhuma deformação a fachada curva.
Logo na entrada da igreja, o olhar segue diretamente para a deslumbrante cúpula oval, uma revolução para a arquitetura da época. Escondidas pela riqueza da decoração, as pilastras, e os elementos da estrutura são de uma harmonia e equilíbrio impressionantes.
A pequena igreja surpreende por sua bela iluminação em um (ôba) relativamente sossegado ambiente. Lindo também é o sereno claustro, onde até se esqueçe da movimentada rua lá fora. Talvez por não ser uma atração prioritária entre os turistas, dá para desfrutar com mais tranquilidade esta obra prima.
A Chiesa de San Carlo alle Quatro Fontane, também conhecida como San Carlino, fica na Via del Quirinale 23 na esquina com a Via delle Quatro Fontane. A estação de metrô mais próxima é a Barberini, na linha A. O ingresso é gratuito e horários e informações podem ser obtidos em http://www.sancarlino.eu/chiesa/eventi.asp
O pequeno trajeto desse dia deve ter durado umas seis horas e foi maravilhoso. As estimativas de tempo nas visitas e andanças dos dias subsequentes também se mostraram insuficentes O nada cruel destino foi aceito com resignação.
Olá
Gostaria de saber quem foi o escultor das quatro fontes
p.s. Gostei imenso das fotografias obrigada por partilhar 🙂
Oi Joana,
Conforme as anotações que fiz antes da visita, as fontes representado o Rio Tibre, o Arno e Juno foram criadas por Domenico Fontana e a de Diana é de Pietro da Cortona.
Normalmente, quando faço alguma pesquisa, não me contento em consultar uma única fonte (dá até trocadilho!), mas, sinceramente, não lembro de feito uma confirmação mais rigorosa – Roma tem muita coisa relevante, com muitos detalhes e eu não dispunha de tempo suficiente para levantar tantas infomações.
Sei também que as fontes foram construídas sob o papado de Sisto V para decorar o quadrilátero formado pela Strada Pia (hoje Via XX Settembre) e Felice Strada (hoje Via delle Quattro Fontane). A história é bastante interessante e vale a pena uma investigada pela Internet.
Que bom que você gostou das fotos – deu um trabalhão danado – driblar os carros para atravessar as ruas (ladeiras=Roma) em um tráfego intenso e esperar a vez na “fila” de turistas querendo fazer a mesma coisa tomou um bocado de tempo. Mas foi muito bom.
Volte sempre
Muito obrigada pela informação 🙂
Estou a fazer um trabalho sobre essa mesma igreja e encontrar esta página feita por você foi uma grande ajuda.
Já agora a cúpula da Igreja tem algum significado ?
Oi Joana,
Não sei qual é a natureza de seu trabalho, mas as construções de igrejas seguem sempre padrões de orientação solar, proporções específicas,elementos simbológicos, etc.
Dá vontade de aplaudir a genialiadade de Borromini que conseguiu uma engenhosa solução para um terreno pequeno e em uma esquina através de recursos de ilusão de ótica.
Até onde sei,a cúpula oval é composta de caixotões em um (incomum) padrão de octógonos para criar entre eles a forma da cruz, que é o emblema da ordem espanhola para qual a igreja foi construida. Pode ser que existam outros significados.
Espero ter ajudado
Ajudou bastante obrigada 🙂
Foi um prazer rever as anotações e relembrar a visita. Apareça