O que fazer em uma noite fria e chuvosa de inverno após um dia inteiro caminhando por Roma? A resposta óbvia e sensata seria: Voltar para o quarto aquecido do hotel e dormir um pouco mais cedo para acordar com disposição renovada no dia seguinte. O problema é que às sete da noite eu ainda não estava cansada e, tendo cumprido a programação, queria como bônus um fantástico cenário. Para esse tipo de situação, que felizmente é frequente, a solução é buscar na memória filmes ou livros passados na cidade: A inspiração aparece na hora.
Apesar de não assumir que gosto de Dan Brown e sua série “Código da Vinci”, lembrei-me do simbologista Robert Langdon fazendo mais uma de suas mirabolantes deduções na Rosa dos Ventos que circunda o obelisco da Piazza di San Pietro no Vaticano.
Mesmo com a chuva mais forte, a possibilidade de visitar outro país logo ali no outro lado do rio era irresistível. Como estava perto da Piazza Navona, ao invés de ir até o distante metrô linha A para seguir até a estação Ottaviano, decidi embarcar no ônibus 492 no Corso del Rinascimento.
Projetada pelo grande mestre Bernini, a lindíssima Piazza di San Pietro tem ao centro um magnífico obelisco trazido do Egito pelo imperador Calígula. Ao redor dele, os dezesseis discos em mármore decorados com rostos humanos soprando para as diversas direções do vento.
Respeitosamente discordando das brilhantes especulações esotéricas do Dr. Langdon, a Rosa dos Ventos da Piazza di San Pietro não é criação de Bernini. Instalada na praça em 1817 sob a orientação de um astrônomo jesuíta, tem uma função menos glamorosa: É uma bússola com bonitas indicações dos pontos cardeais.
Além dos 16 “ventos”, há um círculo adicional com outros discos um pouco mais ao exterior. Precisamente ao meio dia nos equinócios de primavera e de outono, a sombra projetada pela ponta do obelisco coincide com uma destas marcações. Ou seja, o monumento no centro da praça é um imenso relógio.
Completando a beleza da praça, os leões de bronze junto ao obelisco e as luminárias. As fontes e a Basílica, estas sim, projetadas por Bernini emolduradas pela imensa colunata oval tendo em cima de cada coluna a escultura de um santo são uma de uma grandiosidade emocionante.
A intensa chuva que caía naquela noite de inverno em que fiz a visita, além de me permitir fotografar os círculos da Rosa dos Ventos sem precisar esperar os pés dos outros turistas saírem de cima, pode me proporcionar uma das mais marcantes experiências das viagens que fiz: Ter a Piazza di San Pietro exclusivamente para mim.