Veneza é um lugar único. Suas principais “ruas” são os cerca de 170 canais que separam as pequenas ilhas muito próximas umas das outras. Para atravessá-las é preciso transpor uma de suas quase 400 pontes. Curiosamente, a principal “avenida”, o Grande Canal com cerca de três quilômetros e meio, tem apenas quatro pontes, e bastante distantes entre si. Passar de uma margem para outra envolve uma boa caminhada.
A alternativa de pular no canal e atravessá-lo a nado não é a mais elegante, e tampouco segura: Não seria nada fino, caso tivessem a sorte de não serem atropelados por uma embarcação, um executivo em seu impecável terno italiano, ou uma senhora toda produzida para uma festa de casamento, atingirem a outra margem encharcados e em total desalinho. Ainda bem que existe o “traghetto”.
Os traghetti são gôndolas que atravessam perpendicularmente o Grande Canal, fazendo o transporte de passageiros. São operados por dois remadores, um na popa e o outro recebendo o pagamento e auxiliando o embarque dos usuários. O trabalho em dupla agiliza o serviço e abrevia o tempo da viagem, que dura menos que cinco minutos.
Utilizando antigas gôndolas, sem os luxuosos paramentos e poltronas estofadas, os úteis traghetti são rotineiramente utilizados pelos moradores da cidade. A curta viagem é feita em pé, mas é permitido sentar na lateral do barco – perfeito para os não surfista, pois não é muito simples manter o equilíbrio com o balanço provocado pela passagem de embarcações maiores. Os práticos venezianos sabendo que o traghetto vai manobrar, se posicionam de frente para a proa já se preparando para o desembarque.
Conhecer Veneza é sonho romântico de muita gente. A pessoa suspira, olha para o alto e se imagina sentada com seu amor em poltrona ricamente estofada, singrando os sossegados canais em uma elegante gôndola e saboreando um bom vinho ao som de uma bela melodia. O arrebatamento e o lirismo se dissolvem ou sofrem um forte abalo quando se descobre que uma voltinha de 40 minutos custa entre 80 e 100 euros (e sem cantoria).
Mostrar aos amigos as fotos da viagem a Veneza sem provas materiais do passeio de gôndola pode equivaler ao suicídio social. Uma solução honrosa e econômica para evitar tal desastre é o traghetto. Você embarca e se fotografa rapidamente tentando não balançar muito nem incomodar os outros passageiros. A viagem é extremamente breve, mas a experiência é de fato vivenciada.
Até pouco tempo, qualquer pessoa podia embarcar em um traghetto e pagar menos de um euro pela travessia. Atualmente, este valor contempla apenas os residentes – turistas pagam mais. Embora nada se compare à magia do verdadeiro e tradicional passeio de gôndola, uma alternativa não menos romântica de empregar este dinheiro seria uma refeição a dois com vinho seguida de gelato para digerir. Com o troco, daria ainda para voltar em um traghetto.
Queria muito ter lido o seu post antes de fazer o passeio de gondola, pois achei esse passeio uma furada. Fui na praca San Marco para pegar uma gondola e me ofereceram um passeio normal por 80 euros (durando 30 min) e outro passeio “maior” por 120 euros (durando 40/45 min). Tentei pechinchar, mas o gondoleiro que no começo parecia amigavel depois ficou agressivo e ate saiu de perto resmungando porque nao queria tomar prejuizo. Os outros gondoleiros vieram que nem abutres tentar nos convencer de que era um bom passeio e para fecharmos logo o passeio com o gondoleiro da vez, mas acabamos nao fechando pelo mau humor dele. No meio da praça fomos abordadas por outro gondoleiro que disse que faria ompasseio maior por 80 euros e fechamos com ele. Ele mal explicou sobre a cidade pra gente durante o passeio e durante o caminho vimos outros gondoleiros tambem que mal falavam com seus clientes. O passeio realmente correspondia ao passeio maior, mas o trajeto de 40/45 min na verdade corresponde a ida e volta. Ou seja, so andamos uns 15/20 min da praça San Marco e ja voltamos logo em seguida pelo mesmo caminho (e o trajeto da volta tambem demorou 15/20 minutos). Nao achei que valeu a pena. Acho que passeando a pe por Veneza vale muito mais a pena do que andar de gondola que sinceramente nao achei nada demais e nenhum um pouco romatica como nos filmes e reportagens.
Oi, Sandra
O post foi escrito meio que num tom de brincadeira, pois a estada em Veneza aconteceu em uma viagem com orçamento bastante apertado. Lembrando dos amigos que cobravam o “passeio de gôndola”, pensei que a experiência de atravessar o Grande Canal de uma margem para outra em pé em um Traghetto, efetivamente uma gôndola, pudesse ser também divertida para algum leitor do blog.
Mesmo a mais fantástica das viagens terá sempre filas, burocracia, travesseiros finos, atrações fechadas, caminhos errados, bolhas nos pés ou rodinha de mala quebrada e, mesmo assim, as lembranças que guardamos são boas. Apesar de pessoalmente não dar tanta importância ao passeio de gôndola, imagino que para muitos, e mesmo com todos os percalços que você relatou, é uma experiência única em uma cidade singular e sonhos devem ser realizados, sempre que possível. Por isso, acho que você não deve se arrepender de ter tido este “privilégio”, até para poder criticar com legitimidade algo que vivenciou.
Considerando os elevados custos com a manutenção de uma gôndola em um lugar tão úmido e o tempo empregado em tanto treinamento (e provas) para prestar um serviço turístico ímpar, penso que, mesmo o salgado valor cobrado por um passeio de gôndola é, no fim das contas, justo. E quem tem mesmo vontade de fazê-lo deve ir adiante. Lembro aos duros ou mãos de vaca, que também é possível ratear com outros turistas o valor da “corrida”, já que a capacidade de uma gôndola é de até seis passageiros.