Istambul é uma cidade turca muito especial. Metade de seus habitantes mora na Europa, a outra na Ásia. Cortada pelo Estreito de Bosforo, não é incomum pessoas morarem em um continente e trabalharem em outro. Por conta disso os deslocamentos marítimos são corriqueiros.
Os transportes públicos oferecem uma grande quantidade de rotas por mar, dando ao visitante excelentes oportunidades de admirar a cidade de um bonito ponto de vista. Com saídas freqüentes de diversos píeres e é possível atravessar rapidamente de um continente para o outro, só para tirar onda e refrescar as idéias “al mare”.
Um passeio muito procurado por turistas é o “Cruzeiro pelo Bosforo”. Partindo normalmente do píer de Eminonu, segue até o final do Estreito, onde ele se alarga para encontrar o Mar Negro. Existem inúmeras excursões que promovem passeios pelo Estreito de Bósforo. A oferta é grande: Desde barcas de luxo a barquinhos a remo, com duração e roteiros variados.
Mas nada se compara a alternativa oferecida pela empresa municipal, a IDO. As barcas fazem um serviço regular, ziguezagueando pelo Estreito de Bosforo, parando em diversos píeres até o último porto, Anadolu Kavagi, uma colônia de pescadores junto às ruínas de uma antiga fortaleza no lado da Ásia, com direito a uma impressionante vista do Mar Negro.
O passeio é extremamente agradável, relaxante e barato, oferecendo a oportunidade de conviver com os habitantes da cidade em seus deslocamentos rotineiros e peculiaridades locais, como experimentar sem sair do lugar, o delicioso iogurte fresquinho que é oferecido por vendedores que embarcam no píer de Kanlica.
A barca sai do terminal 3 no pier de Eminonu, próximo a ponte Galata. As passagens são vendidas na bilheteria ao lado, onde está escrito “Bogaz Iskelesi” (veja na quarta foto, tirada já dentro do barco). Se o dia escolhido for durante alta temporada ou num fim de semana, é bom chegar e embarcar uns trinta ou vinte minutos antes da partida, para garantir uma vaga na janela.
O passeio completo dura cerca de seis horas. Na baixa temporada, há uma saída diária de Eminonu às 10:35h e retornando às 16:30h. No verão a ultima partida é às 13:30h, com retorno às 18:30h.
A viagem até Anadolu Kavagi, incluindo as rápidas paradas intermediárias, leva quase uma hora e meia. É possível reembarcar e voltar no mesmo barco, mas fica mais divertido descer e aproveitar o intervalo de três horas até a próxima partida explorando o local.
Comece subindo a íngreme colina até o topo onde ficam as ruínas da antiga fortaleza bizantina. É um pequeno sacrifício (caminhada de cerca de 20 minutos), plenamente recompensado com a arrebatadora vista do Estreito de Bosforo ao sul e o Mar Negro ao norte. Se as pernas estiverem cansadas, é possível pegar um taxi do povoado até a área da fortaleza.
Um pouco abaixo da fortaleza existem alguns cafés com preços bem mais elevados que os no vilarejo abaixo (que por sua vez não são baratos), mas considerando a fantástica vista, pode valer a pena uma parada para um café ou refrigerante com direito a paisagem.
Na volta aproveite para dar uma circulada pelo vilarejo. Por ali algumas lojinhas vendendo imãs, cartões postais, chapéus, além de banheiros com preços … turísticos, e almoçar em um dos inúmeros restaurantes que oferecem pratos a base de peixes e frutos do mar, especialidade da região.
Confesso que nutro uma profunda implicância por restaurantes em áreas turísticas com os “pega-turistas” na porta aliciando os potenciais fregueses, chacoalhando menus e fazendo mesuras. Como eu havia lido diversos comentários elogiando a qualidade dos peixes que ali eram servidos, decidimos almoçar na beira do cais. Chegamos uma hora antes da partida do barco para termos tempo de apreciar a refeição com tranquilidade.
O peixe até que não estava mau, mas veio em uma quantidade ridiculamente pequena (e olhe que como pouco) e sem nenhum acompanhamento. O serviço, absurdamente demorado, considerando que o restaurante estava praticamente vazio, quase nos fez perder o barco. O preço foi bem caro para o que foi servido. Tentamos pagar em euros, mas desistimos considerando o câmbio praticado pelo restaurante inaceitável, torrando praticamente as reservas de liras turcas.
O trajeto da volta dá a oportunidade de observar detalhes que escaparam na vinda. O passeio, apesar de longo, é imperdível. Se eu tiver a chance de um dia voltar a Istambul, certamente repetirei a dose. Dessa vez, levarei um maravilhoso piquenique para aproveitar por mais tempo as ruínas da fortaleza, a deliciosa brisa do mar e a impressionante vista do Estreito de Bosforo e o Mar Negro lá embaixo.