O que para um cidadão europeu é uma prática tranquilamente inserida na cultura, para nós brasileiros, acostumados a viajar em nosso enorme país em automóveis, ônibus ou aviões, tomar um trem é uma grande experiência. Quem se desloca dentro de um ou entre países na Europa fica espantado com a extensa malha ferroviária, e, se já usufruiu dos benefícios dos voos de baixo custo, pensa duas vezes antes de fechar a compra de uma passagem aérea a preço de banana.
Depois de um período de euforia em que corria atrás de voos incrivelmente baratos, aprendi a pesar os prós e contras dessa alternativa, a princípio vantajosa, percebo que mudei. Hoje em dia, monto os roteiros na Europa buscando sempre que possível, fazer todos os deslocamentos em trens. As vantagens com relação a viagens aéreas ou mesmo de carro são tantas, que mesmo que saíssem mais caro, e às vezes acontece, ainda assim seriam escolhidos.
Veja os motivos:
1 – Preço – Sim, até os trens de alta velocidade podem ser mais baratos que voar. O pulo do gato consiste em decidir logo os trechos e datas que se pretende viajar e comprar as passagens com antecipação diretamente nas empresas que oferecem o serviço;
2 – Custo real – Mesmo com menor preço nominal, uma passagem aérea envolve custos com a “passagem” da bagagem no porão e deslocamentos entre os aeroportos e as cidades tanto na partida como na chegada;
3 – Descontos – A maioria das empresas de trens oferece descontos para grupos, famílias com crianças e para viajantes com idade (normalmente) superior a 60 anos. Muitas vezes viagens à noite, em fins de semana ou mesmo fora do horário de pico são mais baratas;
4 – Sem gastos surpresa – Ao contrário da maioria das aéreas de baixo custo que além da bagagem e da taxa pela transação online, cobram no aeroporto uma tarifa extra para quem não levou a passagem impressa, os bilhetes dos trens europeus comprados pela Internet, não têm custo adicional. (Mas como qualquer transação internacional em cartão também sofrerá encargos);
5 – Tarifas estáveis – Tirando fora os descontos para compras antecipadas, mesmo em horários concorridos, feriados ou época de férias, o valor das passagens é praticamente fixo não aumentando absurdamente em cima da hora;
6 – Flexibilidade – A esmagadora maioria das viagens regionais não necessita de compra antecipada. Com raras exceções, destino concorrido em altíssima temporada ou um evento especial, basta chegar à estação, comprar a passagem e embarcar no próximo trem ou na faixa de horário desejada;
7 – Passagens descomplicadas – Em compras antecipadas é possível apenas com o número da reserva retirá-las na bilheteria ou em máquinas de autoatendimento e, em muitos casos, apresentar ao fiscal a bordo o código QR (aquele código de barras quadrado) no telefone;
8 – Frequência – Ao contrário de muitas rotas aéreas sazonais ou com um único voo em determinados dias da semana, os trens circulam todos os dias e nos trajetos mais comuns com várias saídas diárias. Se acontecer algum atraso, basta embarcar no próximo horário;
9 – Sem “overbooking” – Se a sua passagem foi comprada para aquele dia e horário, sua viagem será naquele trem;
10 – Pontualidade – Viagens em trens não são escravas de variações climáticas: o índice de atrasos é infinitamente inferior ao dos voos. Em caso de inoperância de um horário ou rota, o trecho será completado por um ônibus.
11– Menos filas – Não existem filas para check-in, para o portão de embarque, nem esperar que a senhora na sua frente para a inspeção de segurança retire todas as bijuterias, desamarre a bota e tente negociar a manutenção de seu caro pote de creme pesando mais que cem gramas;
12 – Simplicidade no embarque – Com raras exceções – só me ocorre o Eurostar entre Londres e Paris – não é preciso se apresentar com antecedência. Esqueça aquela coisa de chegar duas horas antes. Uma vez na estação, é consultar a plataforma se dirigir para lá e embarcar;
13 – Franquia de bagagem – Não há pesagem nem cobrança adicional pelo transporte. Embora exista limite, um passageiro que leva consigo duas malas sequer será abordado. A pegadinha da tarifa exorbitante da bagagem despachada quando paga na hora do embarque aéreo, ou pelo excesso de peso não acontece;
14 – Ausência de constrangimento – O espetáculo de pessoas no saguão de um aeroporto vestindo três casacos, tentando encaixar o computador no bolso ou abrindo malas para dividir os pesos das malas não acontece em uma estação de trens;
15 – Acesso a bagagem – Suas malas ou o carrinho do bebê viajam ao alcance das mãos em bagageiros no vagão ou acima dos assentos, descendo junto na estação. Não é preciso esperar para resgatá-los na esteira rolante;
16 – Integridade da bagagem – Com tempo escasso para separar, embarcar e desembarcar carga, a manipulação da bagagem em terra nem sempre é feita com delicadeza pelas empresas aéreas. Embora não seja usual, pode vir danificada, ou chegar no voo seguinte;
17 – Conforto – Além de mais espaço para as pernas, mesmo na classe “Z” de um trem regional, os assentos serão sempre maiores que os da classe econômica de qualquer empresa aérea;
18 – Liberdade – É permitido circular a bordo a qualquer hora: Não é necessário esperar o sinal indicando que você pode destravar o cinto de segurança nem precisará desinclinar o assento ao se aproximar de uma estação;
19 – Contato com o mundo – Em nenhum momento será solicitado o desligamento de equipamentos eletrônicos. Computadores e telefones podem ser usados durante toda a viagem e a maioria dos trens dispõe de acesso à Internet;
20 – Direito a caprichos – Poder repentinamente alterar os planos, saltando em uma cidade intermediária e retomar a viagem em outro trem;
21 – Sem sobressaltos – Trens não sofrem turbulências e não aterrissam em outro aeroporto um pouco mais distante;
22 – Comércio com preços humanos– Diferente dos aeroportos, a maioria das lojas e lanchonetes em estações de trens não cobram valores absurdos. Você pode como os outros passageiros comprar e lanchar a bordo, pois a sua garrafinha de não será apreendida ao embarcar.
23 – Paisagem – De um avião não dá para ver as pequenas cidades no caminho nem a beleza da vegetação na primavera. Há ainda as famosas rotas turísticas em que o objetivo é passear de trem admirando a paisagem;
24 – Baixo nível de estresse – Alugar um carro para percorrer poucos trechos, pode envolver engarrafamentos, caminho errado, custos com combustível, pedágios, estacionamentos e devolução em outra cidade ou país;
25 – Eventual economia de hospedagem – As chances de dormir bem em um leito de trem noturno são infinitamente maiores que em um avião. Além da economia na diária do hotel, não se perde tempo durante o dia com deslocamentos.
26 – Arquitetura das estações – Muitas das estações de trens na Europa são verdadeiros monumentos de tão bonitas que são. É muito boa a sensação de sair ou chegar por uma atração turística;
27 – Localização central – Todas as grandes estações de trem em cidades da Europa ficam no centro e sempre bem conectadas com a rede de transporte urbana. É fácil e rápido chegar ou partir.
Viajar de trem é ótimo, porém não é obrigatoriamente a melhor alternativa quando se circula entre cidades ou países na Europa. Para evitar que o extenso post se torne enfadonho, a continuação do assunto voltará a ser tratada em breve.
Olá Mônica,
Muito bom o seu blog.
Entre todas as dicas sobre viajar de trem, adiciono uma, que tem que ser avaliada caso a caso:
Se uma viagem de trem for inferior a quatro horas, ela é mais rápida que a de avião.
Fácil de entender com o tempo que se gasta para ir e sair do aeroporto, antecedência da chegada, etc.
Muito bem lembrado, Luiz
E, sinceramente: Mesmo em uma viagem de trem com duração superior a quatro horas dá para chegar antes. Com a maioria dos aeroportos distantes da área central das cidades, destinar uma hora para o deslocamento para a partida e outra para chegada além de ter que se apresentar quase sempre duas horas antes da decolagem e da coleta da bagagem, já dá empate.
Obrigada