Viajar é bom porque podemos colocar nossos sentidos à serviço do prazer sem hora marcada, obrigações ou preocupações com calorias. Experimentar sabores não conhecidos e gostar, transformam uma pessoa comum em viajante crônica, ansiosa por repetições e ávida por novidades.
Quem visitou a Espanha, e não provou seus conhecidos “Dulces de Convento”, precisa repensar a própria existência e se programar para voltar e suprir esta imperdoável lacuna cultural e gastronômica.
Confeccionados por monges ou freiras de forma artesanal ou quase, com receitas tradicionais vindas do tempo dos mouros ou dos romanos, utilizam ingredientes nobres como ovos, manteiga, amêndoas, e vinhos. Os doces feitos por religiosos são tão populares que alguns deixaram de ser exclusividade dos conventos e mosteiros, como as famosas “Yemas” e os biscoitos “Huesos de Santo”, também vendidos em confeitarias.
A venda dos doces é muitas vezes a principal fonte de recursos para a manutenção de algumas das ordens ainda existentes. Apesar de também serem encontrados em lojas especializadas, lojas virtuais ou em lojas de “souvenires”, nada se compara à experiência de adquiri-los no local onde são fabricados, principalmente nos conventos que ainda adotam a clausura e/ou votos de silêncio.
O processo da compra é um pitoresco ritual arcaico, que requer habilidades detetivescas para, antes de mais nada, descobrir no endereço do convento ou mosteiro, onde fica o acesso à área de vendas, sorte para se chegar em uma hora em que estejam atendendo ou para não encontrar um cartaz avisando “No hay dulces”. A coisa funciona mais ou menos assim:
1) Ainda na rua, encontrado o portão, há uma campainha ou interfone para se solicitar a entrada no prédio (o texto: “Dulces, por favor!”) Alguns conventos colocam um cartaz informando o horário de funcionamento;
2) Nem sempre o local da venda fica perto da entrada. Às vezes é preciso percorrer corredores escuros e pátios quase sempre sem sinalização até achar a “lojinha”;
3) Uma vez encontrada a loja, há uma tabela com a lista de produtos e seus respectivos preços. Em alguns conventos são expostos em uma espécie de vitrine;
4) Decidida a compra, começa a parte divertida: É preciso tocar uma campainha e esperar até ouvir a voz de uma freira perguntando o que se vai comprar. Feito o pedido, uma nova espera;
5) À esta altura, os olhos curiosos já descobriram uma esquisita engenhoca de madeira: É um torno, que naquele local tão tranquilo,começa a se mover fazendo barulho e dentro dele surge a sua encomenda;
6) Você pega a compra, coloca o pagamento no torno e é a sua vez de girá-lo. Se houver troco, aguarde: ele retornará pelo mesmo sistema.
Em determinados conventos, a sequência sofre ligeiras variações como ao atender o interfone na loja, a freira diz: “Ave María purissima”, e o cliente responde: “Sin pecado concebida” e daí começar o processo da venda. Às vezes, o pagamento é feito antes de a encomenda ser entregue acompanhada do troco.
Apesar de estarem desaparecendo quer por envelhecimento da comunidade, falta de novas adesões, ou deterioração das edificações, ainda restam muitos conventos e mosteiros em muitas regiões da Espanha, produzindo e vendendo doces para seu sustento.
Uma vez no país, não custa descobrir um “Convento que vende dulces”. Provar um “mantecado”, um “dulce de membrillo”, um “tocino de cielo”, uma “yema”, uma “coronilla de almendra” é uma experiência… divina.
Quando estive na Andaluzia, não deu para comprar todas as “merendas” que ambicionava. Em alguns conventos cheguei fora do horário de funcionamento, em outros praticamente escaneei as paredes da fachada, sem encontrar o acesso. Abaixo, alguns dos endereços anotados antes desta viagem. As informações sobre linhas de ônibus urbanos e paradas mais próximas foram obtidas nos sítios da empresas municipais de transportes das respectivas cidades.
Córdoba
Empresa de transportes – http://www.aucorsa.es/
– Convento de Santa Isabel
Calle Santa Isabel, 13
ônibus 2, 4, 6 e 80 – parada 259, Ollerías (Puerta Colodro)
Granada
Empresa de transportes – http://www.transportesrober.com/
– Convento Santo Tomas de Villanueva Agustinas Recoletas
Carril de San Agustin com Callejon Tomasas, 23
ônibus 31 e 32 – parada 1048, Callejon de las Tomasas I
– Monasterio de la Encarnación
Plaza de la Encarnación, 1
ônibus 4, 6, 9, 11, 23 – parada 416, Gran Via 2I
– Monasterio de San Bernardo
Calle Gloria, 2
ônibus 31e 32 – parada 1010, Calle Bañuello I
– Monasterio de San Jerónimo
Calle Rector Lopez Argueta, 9
ônibus 1, 3, 7, 8, C, 33, 111 – Parada 418, Gran Via 2 I
– Monasterio de Santa Catalina de Zafra
Carrera del Darro, 39
ônibus 31, 32 e 35 – parada 1010, Calle Bañuello I
– Monasterio de Santa Isabel la Real
Calle de Santa Isabel la Real, 15
ônibus 31 e 32 – parada 1023, Santa Isabel la Real
– Monasterio del Santo Ángel
Calle San Antón, 40
ônibus 1, 3, 7, 8, 9, 11, 13, C e 33 – parada 582, Puerta Real I
– Real Monasterio de la Madre de Dios de las Comendadoras de Santiago
Calle Santiago, 2
ônibus 23, 30 e 32 – parada 546, Calle Santiago 3V
Málaga
Empresa de transportes – http://www.emtmalaga.es/
– Convento de la Trinidad
Calle de la Calzada de la Trinidad
ônibus C1 – parada 957, Calzada de la Trinidad
Sevilha
Empresa de transportes – http://www.tussam.es/
– Convento de San Clemente
Calle Santa Clara, 91
ônibus C4 – parada 810, Torneo (Puente Barqueta)
– Convento de San Leandro
Plaza San Ildefonso
ônibus C5 – parada 106, Águilas (Casa Pilatos)
– Convento Madre de Dios
Calle San José, 4
ônibus C5 – parada 106, Águilas (Casa Pilatos)
– Convento de Santa Ana
Calle Santa Ana, 34
ônibus 13 e 14 – parada 562, Trajano (esq. Alameda)
– Convento de Santa Ines
Calle de Doña Maria Coronel, 5
ônibus 27 ou 32 – parada 41 Imagen (Encarnación)
– Convento de Santa María del Socorro
Calle Bustos Tavera, 30
ônibus C5 – parada 798, San Luis (Plaza San Marcos)
– Convento de Santa Paula
Calle Santa Paula, 11
onibus C5 – parada 798, San Luis (Plaza San Marcos)